Muitos acreditam que o aquecimento da construção civil em Bauru traz apenas desenvolvimento econômico para a cidade. O fato, porém, impõe outra consequência menos positiva: a geração de grande quantidade de entulho. Atualmente, a cidade tem 50 áreas de descarte irregular de entulho e somente um bolsão “oficial’ de descarte do material. Esgotado, ele mudará de endereço nesta semana (leia mais nesta página). Bauru também conta com dois ecopontos e, até janeiro, a primeira usina de reciclagens de entulho deve começar a operar na cidade, que estuda outras opções para lidar com o problema.
Um projeto da prefeitura, por exemplo, foi pré-selecionado pela Caixa Econômica Federal, que poderá investir R$ 1,2 milhão numa nova usina, neste caso da própria administração municipal. Um outro empresário local também tem interesse em investir no segmento. Ainda no âmbito do Executivo, a Secretaria de Negócios Jurídicos analisa um decreto que, caso implementado, exigirá um projeto de gestão de entulhos, antes do início das obras.
A cidade produz mil toneadas de entulho diariamente, volume que justifica as iniciativas. A primeira usina da cidade estava prevista para o mês passado. Pelo menos é isso que afirma o titular da Secretaria Municipal das Administrações Regionais (Sear), Sidnei Rodrigues. Ele revela que a usina será construída no Distrito Industrial 3 por um empresário da cidade que já trabalha no ramo de caçambas naquela localidade.
“Eu mesmo analisei o processo e o empresário tem até o meio do ano que vem para inaugurar a usina. Mas ele garantiu que estará aberta em janeiro. Esperamos que 50% dos entulhos irão ser reciclados nessa usina”, conta.
Segundo dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), as mil toneladas de entulho recolhidas em Bauru correspondem a mais de 200 caçambas. Além dessa usina prometida, o titular da Sear revela que podem ser construídas outras duas na cidade.
“Existe o interesse de outro empresário e um projeto da própria prefeitura. Esse projeto foi um dos 13 pré-selecionados pela Caixa Federal e está sendo avaliado”, relata.
Para o ambientalista Klaudio Cóffani Nunes, que é assessor jurídico da Associação dos Transportadores de Entulho e Agregados de Bauru (Asten), o futuro da destinação de resíduos realmente é a construção de usinas.
Ele explica que as usinas trazem dois benefícios. “O primeiro é pegar o material que iria ser descartado e reciclá-lo. Ele é triturado e transformado em agregado reciclado, como areia, terra e brita. Com isso, diminui o acúmulo de entulhos”, explica Cóffani.
Uma usina para reciclar entulhos também será contemplada pela Estre Ambiental, qua aguarda autorização para se instalar no município vizinho de Piratininga (13 quilômetros de Bauru). O projeto prevê também um aterro sanitário que, quando implementado, será um dos maiores do Estado.
Máquina quebrada
Na semana passada, o único local de descarte de entulhos em Bauru passou por um grande problema e revelou o limite da situação. O bolsão atual, localizado em uma grande erosão na quadra 1 da rua Reginaldo Anderson Rosão, na Pousada da Esperança, ficou “entupido” com a quebra de maquinário da prefeitura.
Essas máquinas são responsáveis por fazer o manejo para redução do volume, evitando que se formem aquelas “montanhas” de entulho e que haja acomodação do solo. Entretanto, a prefeitura só possui um caminhão para o serviço e ele quebra constantemente.
Foi o que ocorreu na semana passada, quando o caminhão quebrou e a compactação não foi realizada de segunda até sexta-feira. Com isso, caçambas não conseguiam ser descarregadas na área, o que, além do risco de descarte irregular, atrapalhou a construção civil em Bauru.
“A (secretaria) de Obras passa por uma reforma no maquinário”, confirma o titular da Sear Sidnei Rodrigues, “e esse caminhão quebra com frequência”. Com a situação limite, na sexta-feira, foram levados duas pás carregadeiras ao bolsão. “Uma era da Sear e a outra alugada. Já combinamos de deixar essa máquina da Sear trabalhando durante um mês para evitar o problema. E isso será estendido para mais quatro meses”, promete Rodrigues.
Decreto exigirá gestão antes de obra começar
A questão de descarte de entulhos também passará por outra mudança importante. Segundo o titular da Secretaria Municipal das Administrações Regionais (Sear), Sidnei Rodrigues, um decreto de lei está nas mãos do jurídico da prefeitura e deve entrar em vigor ainda este ano.
“Essa regulamentação foi discutida por vários órgãos e, entre outras questões, coloca que, em obras de mais de 70 metros quadrados, é preciso que o projeto mostre o plano de gestão dos resíduos antes de começar a construção,”, aponta.
Esse plano deve contemplar a quantidade de entulhos que será gerada, o tipo, a segregação e a destinação. “Depois, isso será mostrado para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), que pode, inclusive, não aprovar a obra”.
O assessor jurídico e ambiental da Associação dos Transportadores de Entulho e Agregados de Bauru (Asten), Klaudio Cóffani, aponta que o maior benefício desse decreto é em definir claramente as responsabilidades de cada parte. “Assim, o gerador, o transportador e o receptor saberão seus deveres. E, com isso, certamente diminuirá a quantidade de entulhos”, completa.
Bons materiais
O diretor da Regional de Bauru do SindusCon, Renato Parreira, explica que é preciso diferenciar o que é entulho e o que é resto de construção. “As sobras são materiais bons, que podem ser reutilizados em outras obras, como tijolos inteiros, ladrilhos, portas, entre outros”.
Feita essa diferenciação, essas sobras podem ser enviadas ao Bolsão da Construção, criado em Bauru para arrecadar esse material e repassá-lo gratuitamente à população de baixa renda ou a obras assistenciais. O projeto é uma iniciativa do SindusCon-SP e da Prefeitura Municipal e que conta com o apoio do Jornal da Cidade e da 96FM.
O Bolsão da Construção está localizado no almoxarifado da prefeitura, que fica na quadra 1 da avenida Engenheiro Hélio Police. Os doadores do material podem agendar a coleta nos telefones (14) 3223-2009 e (14) 3223-1998.
50 áreas irregulares
Segundo o assessor jurídico e ambiental da Associação dos Transportadores de Entulho e Agregados de Bauru (Asten), Klaudio Cóffani, a prefeitura municipal realizou um mapeamento e descobriu 50 áreas de descarte irregular de entulhos.
“Esses descartes não são inicialmente prejudiciais ao meio-ambiente. Porém, isso acaba virando um lixão. A população vê o entulho e passa a jogar lixo orgânico, restos de alimentos, animais mortos, entre outros. Além das áreas irregulares, é o que pode ocorrer nos entornos dos Ecopontos também”, alerta o Cóffani
Bolsão mudará nesta semana de endereço
A capacidade dos bolsões de entulhos é delimitada pelo volume depositado. O titular da Secretaria Municipal das Administrações Regionais (Sear), Sidnei Rodrigues, afirma que, em Bauru, essa “vida útil” é em média 90 dias.
E, de acordo com ele, a do bolsão localizado na Pousada da Esperança acabou. Por isso, ainda esta semana, o local será alterado. “O novo bolsão será na Quinta da Bela Olinda”, revela o secretário.
Além desse bolsão, os entulhos podem ser levados para outros dois locais: os ecopontos, localizados na quadra 1 da rua Sorocabana, sob o viaduto Antônio Eufrásio de Toledo, no Centro da cidade, e na quadra 4 da rua Américo Finazzi, no Núcleo Nobuji Nagasawa
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